quinta-feira, 13 de julho de 2017

Franz Krajcberg e o Grito da Natureza

Antigamente, havia uma lei do audiovisual que obrigava os exibidores a passarem curta metragens antes dos filmes estrangeiros nos grandes cinemas. Pois bem, eu estava no cinema, o curta era sobre Franz Krajcberg e fiquei atordoada com o que vi. Seu trabalho de arte me tocou profundamente e me identifiquei com suas falas e sobretudo com seu olhar sobre o mundo. Ainda garota, lembro de caminhar na praia e ficar imaginando como poderia registrar as formas que ficam na areia quando as ondas voltam pro mar. Os relevos, os desenhos sempre diferentes e instigantes, registros do movimento das águas e marés. Claro que poderia ser fotografado ou filmado, mas eu pensava em como levar aquele registro, em areia mesmo. E foi sentada no escurinho do cinema que fui arrebatada pela maneira como Krajcberg fez o que eu queria ter feito. Na maré baixa, ele colocou molduras de madeira sobre aqueles relevos e impressões. Em seguida, colocou gesso e FEZ O MOLDE!!!! Com o gesso seco, ele tirava da areia o bloco e em seu atelier cobria com uma massa de papel. Quando a polpa de papel secava, ficava uma folha com todos aqueles relevos e desenhos. Um espetáculo! Foi um choque, uma epifania. Nem lembro do filme que veio depois. Nem sei se consegui ver de fato o filme. Mas jamais esqueci de Krajcberg. Fui buscar informações sobre ele e seu trabalho. Não, nada de Google naquele tempo... A gente tinha que ir à luta pra saber mais...
Daí em diante muito se ouviu falar nele e em suas denúncias. 
Hoje deixo aqui minha homenagem a esse grande homem e grande artista. 

Segue uma matéria do ecycle, localizada em http://www.ecycle.com.br/component/content/article/63-meio-ambiente/3956-o-grito-da-natureza-conheca-o-ativismo-do-artista-plastico-frans-krajcberg-em-nome-da-amazonia.html


Krajcberg, premiado artista plástico e veterano na arte brasileira,  mostra que ainda existem muitos motivos para gritar em nome da natureza.


Foto: Cael Carvalho
A primeira forma de linguagem do homem foi o “grito da natureza”. De acordo com o filósofo francês Jean-Jacques Rousseau, os homens utilizavam sons para pedir socorro no perigo ou ao aliviar-se de dores violentas. O grito de Frans Krajcberg se assemelha à essa linguagem primitiva, na medida em que denuncia a violência do homem contra a natureza, e expõe a dor das florestas devastadas. O artista plástico, premiado na Bienal de Veneza, na Bienal de São paulo, no salão de Arte Moderna, entre outros, é muito importante no panorama da arte brasileira e desenvolveu um poderoso trabalho de ativismo com pintura, escultura e fotografia.

Frans Krajcberg

Nascido em Kozienice, na Polônia, o artista perdeu toda sua família para o holocausto. Nos 4 anos que passou na guerra, Krajcberg se defrontou com a face mais obscura do ser humano, a violência. Após toda essa barbaridade, o artista plástico encontrou refúgio na beleza das formas da natureza.

Na década de 60, Krajcberg morou no interior de Minas Gerais, em uma caverna na região de mineração em Itabirito - lá ele extraia os pigmentos de suas tintas. Mas foi ao conhecer o sul da Bahia, mais precisamente Nova Viçosa, a convite do amigo e arquiteto Zanine Caldas, que o artista plástico encontrou seu refúgio para a vida. “Eu pensei: 'Meu Deus, quanta riqueza que tem, movimento que tem, que a arte ignora. Eu fico aqui“, conta Frans Krajcberg no documentário “O grito da natureza” produzido pela TV Brasil.
Krajcberg vive em Nova Viçosa até hoje e mantém o seu ateliê no Sítio Natura, cercado pela única porção de Mata Atlântica remanescente na região. É em Nova Viçosa que o artista vem, de forma dedicada, construindo um museu para abrigar suas obras.

O grito de Krajcberg

Em um mundo em que o individualismo e a indiferença tornam o dia a dia frio e violento, o grito de Krajcberg se mostra cada vez mais necessário. Ele luta e grita contra o que chama de barbárie do homem contra o homem e do homem contra a natureza. “A minha vida é essa, gritar cada vez mais alto contra esse barbarismo que o homem pratica”. Ele faz da sua arte um grito de revolta ao transformar troncos e galhos calcinados em esculturas. "Quero que minhas obras sejam um reflexo das queimadas. Por isso uso as mesmas cores: vermelho e preto, fogo e morte."
Troncos e raízes calcinadas pelos incêndios que derrubam densas áreas verdes para transformá-las em pasto são o material da obra de Krajcberg. Ele recolhe o que o fogo deixou e o transforma pra que ele grite socorro em nome da Amazônia. “Procuro me exprimir com esse material quebrado, assassinado, tudo isso pra mostrar: veja, ontem foi uma bela árvore, hoje é um pau queimado”, diz. Ele também registra fotos das florestas e possui milhares de fotos de queimadas e da destruição da natureza.

O artista plástico já denunciou as queimadas no Paraná, a exploração dos minérios em Minas Gerais e o desmatamento na Amazônia. Além disso, já defendeu as tartarugas de Nova Viçosa e se colocou na frente de um trator para evitar a construção de uma avenida na cidade. Sua militância em prol da natureza emociona. Krajcberg é um artista que suscita reflexões e diálogos com seus protestos. Embora seu corpo de 94 anos demonstre sinais de enfraquecimento, suas ideias são defendidas com energia visceral.

“Quando eu vejo o material, eu vejo que ele vai gritar comigo, esse é o meu trabalho. Eu não posso ir na rua e começar a gritar, vão me botar na cadeia ou no hospital de doido”, explica Krajcberg. O meio que o artista encontrou foi pegar esses pedaços que foram destruídos brutalmente, e com eles trabalhar, criar e lutar para que o homem reconheça que o planeta está doente.

O trabalho de Frans Krajcbergcarrega uma forte dimensão ética que vai além da arte. Sua militância e seu ativismo com fervor revolucionário mostram sua indignação contra o massacre de nossa biodiversidade. A mensagem do artista é que precisamos interromper esse ciclo de destruição e impedir esse escandaloso crime contra a natureza e a humanidade.

Krajcberg - O Grito da Natureza


Publicado em 17 de out de 2013
Paula Saldanha e Roberto Werneck foram ao sul da Bahia para contar, no programa Expedições, a história do artista polonês naturalizado brasileiro Frans Krajcberg e suas impressionantes esculturas. Assista à reportagem!

http://tvbrasil.ebc.com.br

O manifesto do artista brasileiro Frans Krajcberg

Não pertenço a movimentos. Os únicos movimentos são os dos astros, marés e ventos. A Natureza é a minha arte! – Como posso fugir desta realidade? KRAJCBERG, Depoimento ao autor, Pierre Restany, 1985

Conheça em:
http://queimadas.cptec.inpe.br/~rqueimadas/material3os/20150127_Omanifesto_FransKrajcberg_Envolverde.html

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