Vivemos nossas vidas, trabalhamos, procuramos nos divertir pra compensar tanto esforço pra pagar as contas... (bem, nem todos. Alguns poucos não precisam trabalhar e vivem circulando pelos hotéis de luxo dos lugares mais lindos do planeta). Em meu trabalho, viajo pelo Brasil desde 1996, voando entre o Rio de Janeiro e estados do Norte e Nordeste. A cada ano me assusto com o tamanho da destruição. Nos primeiros anos, voava sobre uma cobertura vasta, espessa e ininterrupta de florestas. Hoje parece estar tudo cercado. Bolsões de floresta aqui e ali e muito pasto e vastíssimas extensões de terra arada, plantada. A monocultura de soja dominando nosso território. Andei pela zona rural do Acre e vi pastos em vários estágios. E Castanheiras gigantes morrendo. No último voo de Brasília até Belém, no Pará, fiquei horrorizada com o que avistei. E tem sido assim. Cada ano, mais plantações, mais pastos, mais floresta no chão. Assim como aconteceu com a Mata Atlântica. Sebastião Salgado também fala disso e mostra que é possível reflorestar uma área degradada e trazer de volta a água e a vida. Mas é preciso empenho. Pois o que se destrói em uma semana, pode demorar uma década para se recompor. É um belo e tocante filme, que vale ser visto ou revisto.
Publicado em 16 de nov de 2015
O filme conta um pouco da longa trajetória do renomado fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado e apresenta seu ambicioso projeto "Gênesis", expedição que tem como objetivo registrar, a partir de imagens, civilizações e regiões do planeta até então inexploradas.
O foco desloca-se nessas viagens de Salgado, procurando revelar como se desenvolve o seu trabalho singular.
Indicado ao Oscar de documentário, o filme recebeu o Prêmio do Júri na seção Un Certain Regard do Festival de Cannes 2014 e também o César como melhor documentário.
O foco desloca-se nessas viagens de Salgado, procurando revelar como se desenvolve o seu trabalho singular.
Indicado ao Oscar de documentário, o filme recebeu o Prêmio do Júri na seção Un Certain Regard do Festival de Cannes 2014 e também o César como melhor documentário.
O Sal da Terra
Retrato de um fotógrafo
por Lucas Salgado
Wim Wenders dirigindo um documentário sobre Sebastião Salgado. É difícil imaginar que isso possa dar errado. E, realmente, não deu. O Sal da Terra é um retrato raro e muito pessoal do fotógrafo brasileiro. O diretor por trás de obras primorosas como Paris, Texas, Asas do Desejo, Buena Vista Social Club e, mais recentemente, Pina, conseguiu capturar o espírito de Salgado e sua obra.
O longa conta ainda com codireção de Juliano Ribeiro Salgado, filho do fotógrafo, que registrou várias imagens de viagens ao lado do pai antes que Wenders entrasse no projeto. Curiosamente, o cineasta alemão é responsável por um olhar mais pessoal e profundo diante de Sebastião Salgado do que o próprio filho, embora as sequências filmadas por ele também sejam importantes na condução da narrativa.
Buscando uma ligação imediata e até mesmo óbvia com a obra do fotógrafo, Wenders foca em tomadas em preto e branco, retratando Sebastião em ambientes de trabalho e também colhendo depoimentos com a câmera em close. O filme não possui um formato quadrado. Temos uma narração de Wenders, outra mais discreta de Juliano e ainda os depoimentos, que são tão longos e reflexivos que acabam assumindo também a forma de narração.
A montagem Maxine Goedicke e Rob Myers é um dos destaques da produção, mesclando cenas em preto e branco, cenas coloridas de arquivo e um incontável número de fotografias. Trata-se de um retrato jamais visto sobre a obra de Salgado, com o próprio explicando alguns de seus trabalhos mais marcantes e também abordando os sentimentos que tinha a cada experiência.
Não se trata de uma obra didática, mas ao mesmo tempo oferece muitas informações acerca do fotógrafo. A infância em Minas Gerais, os estudos no Espírito Santo, a formação em economia, tudo é abordado até chegarmos na compra da primeira câmera pela esposa, pessoa fundamental em sua trajetória. Temos acesso à primeira foto tirada por ele e descobrimos que ele trabalhou como fotógrafo esportivo e fez até nus antes de descobrir sua verdadeira vocação como fotógrafo social.
A partir daí, aprendemos através de depoimentos e fotos como foi que realizou alguns de suas fotografias mais marcantes. Se alguém ainda critica Salgado por fazer uma espécie de "estetização da miséria", esta pessoa deveria assistir ao filme para perceber não só a importância de sua obra, mas também como ele se sentia mal diante de tanta tristeza.
É difícil não se abalar com algumas das fotografias tiradas na Etiópia, em Mali, em Serra Pelada e principalmente em Ruanda, que ele mesmo define como o "inferno na terra" (a situação de conflito, não o país). É impressionante ouvi-lo falar sobre deixar um trabalho com a alma doente.
Em sua parte final, o longa mostra o trabalho ambiental realizado por ele no Instituto Terra e através do ensaio fotográfico Genesis, considerado por ele como sua homenagem ao planeta.
Filme assistido durante a cobertura do Festival do Rio, em setembro de 2014.
O longa conta ainda com codireção de Juliano Ribeiro Salgado, filho do fotógrafo, que registrou várias imagens de viagens ao lado do pai antes que Wenders entrasse no projeto. Curiosamente, o cineasta alemão é responsável por um olhar mais pessoal e profundo diante de Sebastião Salgado do que o próprio filho, embora as sequências filmadas por ele também sejam importantes na condução da narrativa.
Buscando uma ligação imediata e até mesmo óbvia com a obra do fotógrafo, Wenders foca em tomadas em preto e branco, retratando Sebastião em ambientes de trabalho e também colhendo depoimentos com a câmera em close. O filme não possui um formato quadrado. Temos uma narração de Wenders, outra mais discreta de Juliano e ainda os depoimentos, que são tão longos e reflexivos que acabam assumindo também a forma de narração.
A montagem Maxine Goedicke e Rob Myers é um dos destaques da produção, mesclando cenas em preto e branco, cenas coloridas de arquivo e um incontável número de fotografias. Trata-se de um retrato jamais visto sobre a obra de Salgado, com o próprio explicando alguns de seus trabalhos mais marcantes e também abordando os sentimentos que tinha a cada experiência.
Não se trata de uma obra didática, mas ao mesmo tempo oferece muitas informações acerca do fotógrafo. A infância em Minas Gerais, os estudos no Espírito Santo, a formação em economia, tudo é abordado até chegarmos na compra da primeira câmera pela esposa, pessoa fundamental em sua trajetória. Temos acesso à primeira foto tirada por ele e descobrimos que ele trabalhou como fotógrafo esportivo e fez até nus antes de descobrir sua verdadeira vocação como fotógrafo social.
A partir daí, aprendemos através de depoimentos e fotos como foi que realizou alguns de suas fotografias mais marcantes. Se alguém ainda critica Salgado por fazer uma espécie de "estetização da miséria", esta pessoa deveria assistir ao filme para perceber não só a importância de sua obra, mas também como ele se sentia mal diante de tanta tristeza.
É difícil não se abalar com algumas das fotografias tiradas na Etiópia, em Mali, em Serra Pelada e principalmente em Ruanda, que ele mesmo define como o "inferno na terra" (a situação de conflito, não o país). É impressionante ouvi-lo falar sobre deixar um trabalho com a alma doente.
Em sua parte final, o longa mostra o trabalho ambiental realizado por ele no Instituto Terra e através do ensaio fotográfico Genesis, considerado por ele como sua homenagem ao planeta.
Filme assistido durante a cobertura do Festival do Rio, em setembro de 2014.
fonte http://www.adorocinema.com/filmes/filme-220717/criticas-adorocinema/
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