sábado, 16 de janeiro de 2016

As Andorinhas de Macapá

sem verde morada
sobre os fios pousadas:
brancas bandeirinhas de pena


                          Herbert Emanuel/Adriana Abreu




É um espetáculo a revoada de andorinhas no fim de tarde em Macapá. 
Todos os dias, como se ouvindo um chamado, em bando elas surgem. Minúsculos pontinhos negros quase imperceptíveis na imensidão do céu amazônico. Com impressionante velocidade de aproximação, guiadas por inabalável determinação, rodopiam em bruscas manobras acrobáticas. Vindas não sei de onde, elas voltam para passar a noite pousadas nos fios da rede elétrica do cruzamento rua Cândido Mendes com a avenida Padre Júlio Maria Lombaerd, no centro da cidade. 
Aos poucos diminui o chilreio, a algazarra.
Num instante estão prontas para o pernoite, acomodadas na fiação.
Pedestres fogem do "bombardeio", que deixa asfalto e calçadas cobertas de excrementos. 
Pela manhã o bando se vai, sumindo em frenética revoada.



Andorinhas são conhecidas em quase todo o mundo. Vivem em bandos e, donas de grande fôlego,  são capazes de voar longas distâncias, sobre mares, desertos e lagos para fugir do inverno. Retornam ao mesmo local ao final da fria estação. Dizem que elas trazem o verão. Sempre em bando, pois, como diz o povo, "uma andorinha só não faz verão". 

No Brasil são conhecidas 16 espécies em 9 gêneros.  São muito comuns em nossa terra. Costumam escolher áreas abertas para viver. Na Amazônia, é especialmente ao longo dos rios e lagos que as encontramos. Em Macapá, não se sabe o porquê, escolheram um cruzamento no centro da cidade para passar a noite. Todos os dias, há anos,  proporcionam o mesmo espetáculo, pousando na fiação. 

Com fracos e pequenos pés e pernas, são mesmo exímias voadoras. É voando que se banham em rápidos mergulhos e se alimentam de insetos.

Seus ninhos são feitos em telhados, beirais, calhas, buracos nas paredes, nas árvores, nas rochas. Sempre próximos uns dos outros. Um mesmo ninho pode ser utilizado muitas vezes pelo mesmo casal. Algumas espécies aproveitam buracos feitos por outros animais, outras, cavam seus próprios buracos. Machos e fêmeas trabalham na construção do ninho, que podem ser feitos com lama, esterco, palha, capim ou saliva, mas o forro interno, de ervas ou penas, é feito pela fêmea. Na China, a sopa de ninhos de andorinha é uma iguaria requintada! 
Depois de chocados os ovos pela fêmea ou por ambos, dependendo da espécie, a ninhada é alimentada por ambos os sexos.

Fazendo parte da paisagem de muitas cidades, são encontradas também em poesias e letras de músicas. Foi moda em outros tempos pendurar andorinhas azuis de porcelana na parede das varandas, geralmente um trio, de tamanhos diferentes.

Seu alarido nos finais de tarde provoca admiração em muitas pessoas, amantes da natureza. Outros, irritados, impacientes com algazarra e com a sujeira de seus dejetos nas calçadas,   planejam atos bárbaros para se livrar do incômodo. Exigem providências das autoridades, esquecendo que andorinhas devoram quantidades incríveis de insetos prejudiciais a nossa vida.






Andorinha, andorinha,
Andorinha avoou,
Andorinha caiu,
Curumim a pegou.

- Piá, não me maltrata não!
Eu levo você pro mato
Enxergar bichos tamanhos
E correr com os guanumbis...

O menino brincava
Andorinha sofria
E dum lado pra outro
Atordoada gemia:

- Piá, não me maltrata não.
Eu levo você pro mar
Ver as ondas ver as praias
Ver os peixinhos do mar...

O menino malvado
Tapera machucou.
E já morremorrendo
A coitada falou:

- Piá, não me maltrata não.
Eu levo você pro céu...
E nunca ninguém não cansa
De ver as coisas do céu...
É um sítio bonito mesmo
Beiradeando o trem-de-ferro,
Lá você acha sua gente
Que faz muito que morreu.
Assegura em minhas penas,
Vamos embora com Deus...

Lenda do Céu, Mário de Andrade
(In Poesia fora da estante)  


Sobre Andorinhas:

Aves - MEC
Poesia fora da estante - Vera Aguiar (coord.) - Ed. Projeto; CPL/PUCRS, 1995
http://www.bio2000.hpg.ig.com.br/index.htm
http://www.cidadevirtual.pt/p.e.monsanto/jornal/marco97/jornal_2.html
http://www.aap.co.pt/revista/coisas_fascinam/text_113_nidificacao_andorinhas.htm
http://www.nationalgeographic.pt/revista/0702/feature6/default.asp













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